domingo, 17 de agosto de 2008

Uma blitz muito louca

Alex e suas peripécias na cidade grande

Alex é um jovem tradutor de filmes pornô de baixo orçamento, conhecido por suas opiniões questionáveis, hábitos reprováveis e atitudes deploráveis.

O que lhe falta em bom senso, lhe sobra em insensatez. Ou vice-versa. Mas pelo menos, goza de boa saúde. E tem particular orgulho de seu pâncreas, órgão cujo nome sempre achou pra lá de pitoresco.

Entre seus muitos gostos modestamente refinados, uma predileção especial pela água que passarinho não bebe. Pois não é que certo dia lá estava ele ao volante de seu veículo após ingerir quantidade substancial de delícias etílicas quando ouviu uma sirene ao fundo. Epa, uma patrulinha!

- Era só o que me faltava – pragueja, já na iminência do adeus à carteira de motorista e aos seus dias de liberdade e libertinagem.

- Queira descer do veículo, por gentileza – solicita o homem da lei, sem nem disfarçar o sorrisinho maroto no canto da boca. "Peguei mais um mané", deve ter pensado. Mas mal sabia o que estava à sua espera...

Ordem dada, ordem obedecida. E ao sair do carro, Alex deixa evidente seu casaco da polícia japonesa, um modelo nada discreto e um dos itens prediletos da coleção de trajes policiais que ostenta com vigoroso orgulho.

- Você é da polícia japonesa? – pergunta o policial, ensaiando uma gracinha.

- Minha noiva trouxe do Japão – pura mentira. Alex adquirira o casaco numa loja próxima de casa. E também não havia noiva alguma, exceto as que ele encontra em suas regulares visitas a casas de fama duvidosa.

- O senhor andou bebendo?

- Quem, eu? De onde você tirou isso? – fingindo genuína indignação, Alex nega o óbvio. Dava pra sentir o bafo de onça a quilômetros de distância.

- Nós te vimos num quiosque lá atrás com uma cerveja na mão. E te reconhecemos pelo casaco.

Maldito casaco! Não tinha como fugir dessa. Agora que a vaca tava indo pro brejo, o jeito era improvisar.

- Tudo bem, bebi duas cervejas – estava mais pra dois barris, mas quem está contando mesmo?

- Posso chamar o bafômetro?

- Claro que não!

Óbvio que fora apenas uma pergunta retórica. E a resposta também não fez a menor diferença. O guarda diz que a viatura com o bafômetro está a cerca de vinte minutos dali. Tudo bem, Alex já sabia quanto tempo tinha pra se livrar daquela tremenda enrascada.

Então, era hora de começar o show. E usar a lábia que anos de cinismo, trapaças e manipulação lhe deixaram como herança.

- Meu sonho sempre foi ser da polícia – disse, usando o casaco como pretexto. E percebendo que um dos policiais tinha porte de atleta, imaginou que inflar o ego dele seria uma estratégia vencedora – Mas olha pra você e olha pra mim. Eu nunca ia passar na prova.

E em sua corrida contra o relógio e o bafômetro, o fala mansa não se deteve:

- A gente não precisa fazer isso. Vai ser aporrinhação pra vocês e pra mim. E eu fico devendo uma. Amanhã ou depois, a gente se encontra na rua e eu posso retribuir o favor.

Retribuir o favor? Alex nem imaginava como, mas não tinha opção a não ser descer tão baixo quanto pudesse. E o golpe de misericórdia veio quando um dos guardas o censurou por usar um casaco da polícia.

- Você é maluco de ficar andando com isso por aí. Vagabundo não vai querer saber se você é da polícia do Japão.

Pronto, era deixa perfeita para uma de suas infalíveis frases de efeito.

- Vagabundo não me acha!

Perplexos diante da dura mais inusitada da história, os guardas acabaram liberando nosso herói. Sem bafômetro, sem multa e sem propina. E o mais irônico é que o casaco que denunciou foi o mesmo casaco que salvou. Redenção para seres inanimados, um fato notável.

Alex ainda perguntou como eles se chamavam e espera um dia encontrá-los pela noite, quando não tiver bebido. Aí, planeja requisitar o bafômetro para que dê negativo e todos achem que ele aprendeu a lição. Assim, toda vez que se cruzarem novamente, não vão querer perder tempo com ele, agora que se tornou um modelo de sobriedade e consciência cívica.

Na verdade, é apenas um plano descabido que tem toda a chance de dar errado. Mas depois de evento tão insólito, quem vai duvidar da sorte que costuma acompanhar a demência?

* Alex é um personagem fictício que por pura coincidência tem o mesmo nome que eu. Para efeitos legais, morais, sentimentais e sexuais, as peripécias de Alex nunca aconteceram, quer tenham acontecido ou não. E eventuais testes de paternidade ou pedidos de pensão alimentícia serão devidamente ignorados.

3 comentários:

Fritz von Runte disse...

Olha, gozar de saúde é uma inverdade. Esse seu personagem está mal construído. Sua saúde mental me parece deficitária.

ana disse...

personagem fictício... Seu jogadorzinho de poker fajuto!!

Unknown disse...

Polícia Japonesa?
bichooooooooooooona rsrsrs