terça-feira, 19 de agosto de 2008

Gotas de sabedoria:

"Dizem que o álcool acaba com um em cada dez casamentos. Mas o que esquecem de falar é que o álcool é quem começa nove em cada dez casamentos."
Só gostaria de salientar a garrafinha de água na mão desta besta. Infelizmente, imbecilidade não pega no bafômetro...

domingo, 17 de agosto de 2008

Uma blitz muito louca

Alex e suas peripécias na cidade grande

Alex é um jovem tradutor de filmes pornô de baixo orçamento, conhecido por suas opiniões questionáveis, hábitos reprováveis e atitudes deploráveis.

O que lhe falta em bom senso, lhe sobra em insensatez. Ou vice-versa. Mas pelo menos, goza de boa saúde. E tem particular orgulho de seu pâncreas, órgão cujo nome sempre achou pra lá de pitoresco.

Entre seus muitos gostos modestamente refinados, uma predileção especial pela água que passarinho não bebe. Pois não é que certo dia lá estava ele ao volante de seu veículo após ingerir quantidade substancial de delícias etílicas quando ouviu uma sirene ao fundo. Epa, uma patrulinha!

- Era só o que me faltava – pragueja, já na iminência do adeus à carteira de motorista e aos seus dias de liberdade e libertinagem.

- Queira descer do veículo, por gentileza – solicita o homem da lei, sem nem disfarçar o sorrisinho maroto no canto da boca. "Peguei mais um mané", deve ter pensado. Mas mal sabia o que estava à sua espera...

Ordem dada, ordem obedecida. E ao sair do carro, Alex deixa evidente seu casaco da polícia japonesa, um modelo nada discreto e um dos itens prediletos da coleção de trajes policiais que ostenta com vigoroso orgulho.

- Você é da polícia japonesa? – pergunta o policial, ensaiando uma gracinha.

- Minha noiva trouxe do Japão – pura mentira. Alex adquirira o casaco numa loja próxima de casa. E também não havia noiva alguma, exceto as que ele encontra em suas regulares visitas a casas de fama duvidosa.

- O senhor andou bebendo?

- Quem, eu? De onde você tirou isso? – fingindo genuína indignação, Alex nega o óbvio. Dava pra sentir o bafo de onça a quilômetros de distância.

- Nós te vimos num quiosque lá atrás com uma cerveja na mão. E te reconhecemos pelo casaco.

Maldito casaco! Não tinha como fugir dessa. Agora que a vaca tava indo pro brejo, o jeito era improvisar.

- Tudo bem, bebi duas cervejas – estava mais pra dois barris, mas quem está contando mesmo?

- Posso chamar o bafômetro?

- Claro que não!

Óbvio que fora apenas uma pergunta retórica. E a resposta também não fez a menor diferença. O guarda diz que a viatura com o bafômetro está a cerca de vinte minutos dali. Tudo bem, Alex já sabia quanto tempo tinha pra se livrar daquela tremenda enrascada.

Então, era hora de começar o show. E usar a lábia que anos de cinismo, trapaças e manipulação lhe deixaram como herança.

- Meu sonho sempre foi ser da polícia – disse, usando o casaco como pretexto. E percebendo que um dos policiais tinha porte de atleta, imaginou que inflar o ego dele seria uma estratégia vencedora – Mas olha pra você e olha pra mim. Eu nunca ia passar na prova.

E em sua corrida contra o relógio e o bafômetro, o fala mansa não se deteve:

- A gente não precisa fazer isso. Vai ser aporrinhação pra vocês e pra mim. E eu fico devendo uma. Amanhã ou depois, a gente se encontra na rua e eu posso retribuir o favor.

Retribuir o favor? Alex nem imaginava como, mas não tinha opção a não ser descer tão baixo quanto pudesse. E o golpe de misericórdia veio quando um dos guardas o censurou por usar um casaco da polícia.

- Você é maluco de ficar andando com isso por aí. Vagabundo não vai querer saber se você é da polícia do Japão.

Pronto, era deixa perfeita para uma de suas infalíveis frases de efeito.

- Vagabundo não me acha!

Perplexos diante da dura mais inusitada da história, os guardas acabaram liberando nosso herói. Sem bafômetro, sem multa e sem propina. E o mais irônico é que o casaco que denunciou foi o mesmo casaco que salvou. Redenção para seres inanimados, um fato notável.

Alex ainda perguntou como eles se chamavam e espera um dia encontrá-los pela noite, quando não tiver bebido. Aí, planeja requisitar o bafômetro para que dê negativo e todos achem que ele aprendeu a lição. Assim, toda vez que se cruzarem novamente, não vão querer perder tempo com ele, agora que se tornou um modelo de sobriedade e consciência cívica.

Na verdade, é apenas um plano descabido que tem toda a chance de dar errado. Mas depois de evento tão insólito, quem vai duvidar da sorte que costuma acompanhar a demência?

* Alex é um personagem fictício que por pura coincidência tem o mesmo nome que eu. Para efeitos legais, morais, sentimentais e sexuais, as peripécias de Alex nunca aconteceram, quer tenham acontecido ou não. E eventuais testes de paternidade ou pedidos de pensão alimentícia serão devidamente ignorados.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Gotas de sabedoria:

"Viver é como andar de táxi. Quanto mais se roda, maior é a conta."

Cadê meu rim? Tinha, mas acabou...

E não é que a Lei Seca continua fazendo mais vítimas que a dengue, a febre da vaca louca e o escorbuto juntos? Pois quem diria, essa idéia estapafúrdia está dizimando a população, tal como ratos idiotas frente a uma ratoeira entupida de queijo brie.

É o que andam reclamando os pacientes da fila de transplantes, que foram pegos com as calças nas mãos pela repentina falta de órgãos causada por mais este ato insensato e insensível do governo. É a velha história da farinha pouca, meu pirão primeiro: com a diminuição dos acidentes, começou a faltar material pra quem tá com o pé na cova.

E quem sempre pediu uma bicicleta pro Papai Noel, mas na hora de abrir os presentes ganhava um par de meias do Frajola deve saber bem o que essa galera anda passando:

- Doutor, e o meu rim? – quer saber o moribundo, entre uma sessão e outra de hemodiálise.

- Pois é, tinha mas acabou. Agora pode esperar sentado, meu chapa. A fonte secou.

- Mas eu já tô sentado aqui há meses fazendo esta merda de hemodiálise – argumenta o pobre diabo, que está lá há tanto tempo que já deu em cima de todas as médicas, enfermeiras e moças da limpeza. Agora, só resta o Carlão do Raio-X.

- Então é melhor levantar um pouco, senão você vai acabar precisando de um transplante de bunda também.

Se bem que transplante de bunda não seria um grande problema, afinal o que tem de sobra é gente se desfazendo da sua por aí...

E que falta de humanidade é essa que deixa a pobre Mariazinha, com seus cachos dourados e bochechas rosadas à espera de um par de córneas para ver o irmãozinho que acabou de nascer? Nela, ninguém pensou.

- Mamãe, queria tanto conhecer o Joãozinho... – soluça a pobre menina, que além da cegueira, sofre de pais sem a menor imaginação pra botar nomes nos filhos, diante de uma mãe desolada que já percebeu que, depois da Lei Seca e da falta de córneas, a menina vai ficar mesmo é a ver navios.

E o pior é que não dá nem pra encher a cara pra esquecer os problemas. Afinal, ela pode acabar em cana quando voltar pra casa dirigindo seu Corcel 86 com a cegueta e o moleque remelento à tiracolo. Aí, os meninos vão ter que ficar com o pai, aquele mau elemento viciado em cavalos que vai acabar apostando os dois assim que ficar sabendo de alguma barbada das boas.

Como nesse país é sempre o governo contra o povo, só resta às vítimas da Lei Seca um caminho: o da justiça. Ou então o da importação, o que já seriam dois caminhos, mas tudo bem. Mas aí a galera teria que se arriscar comprando um fígado made in Taiwan ou então um legítimo pâncreas chinês. Ou quem sabe, um par de rins paraguaios, onde “la garantia soy jo"...

terça-feira, 12 de agosto de 2008

As estatísticas não mentem: beba antes de dirigir

Outro dia me deparei com uma reportagem afirmando que a Lei Seca diminuiu em 30% o número de acidentes. Aí me pus a pensar sobre os outros 70%.

Se os bebuns causam menos de um terço das barbeiragens que a gente vê por aí, me parece óbvio que as pessoas sóbrias são o verdadeiro problema. Se o governo começasse a multar e prender os sóbrios, os acidentes iam cair pra menos da metade!

E em vez de meter a boca no bafômetro, a rapaziada ia ser obrigada a tomar um gorózinho.

- Como assim o senhor não bebeu antes de dirigir? Tá querendo ir em cana, mané? – o guarda da blitz já ia chegar cheio de atitude e com a vodka na mão.

- Não, seu polícia. Eu juro que bebi. Uma taça de vinho, mas bebi, sim. É que não tá pegando no bafômetro... – responderia o motorista desesperado, já sabendo que ia ter que morrer numa grana pra não ficar fichado e cabreiro com a perspectiva de não poder sentar por um mês depois de passar a noite em alguma cela apertada com aquela galera gente boa que não vê mulher há tempos...

- Um copo de vinho? Tá me achando com cara de otário? O senhor está sendo conduzido em flagrante pro distrito. E pode ir ligando pro advogado, que a coisa tá feia pro teu lado – concluiria o guarda, puxando um par de algemas pra botar uma pulseira de prata no espertinho.

E a economia ia melhorar, trazendo novos serviços, profissionais mais qualificados e produtos de maior qualidade. Que tal os camelôs que vendem água e refrigerante no sinal? Claro que viriam com uma cervejinha bem gelada! E até alguns petiscos, quem sabe?

E os pirralhos que ficam jogando bolas de tênis pro alto, com aqueles malabarismos de circo onde até palhaço chora? Nunca mais! Neste admirável mundo novo, teríamos uma trupe de barmen com receitas exóticas e drinks flamejantes, num verdadeiro drive thru etílico.

E o que dizer dos meliantes que jogam aquela água pestilenta no pára-brisa e depois arranham a porra toda quando tentam limpar a sujeira que eles mesmos acabaram de fazer? Água pestilenta o cacete! Nego ia trazer shot de tequila. Com limão pra acompanhar, é claro...